As
Ciclovias e os Corredores de Ônibus!
Após uma paralisação necessária, de meses, volto a escrever em meu blog que, espero, seja aberto a discussão sobre tão importante tema, o trânsito e o transporte numa cidade como a nossa! Nesse sentido, coloco em discussão minha opinião em relação a política pública implementada pelo (des)governo Kassab e sua visão higienista e elitista, nesse caso, com o advento das ciclovias em detrimento dos corredores de ônibus e investimento em transporte público de massa. Esse texto, a princípio, não tem o objetivo de ser um documento acadêmico, muito pelo contrário, poderá servir par isso, mas, por ora, gostaria que fosse para discussão do mais simples trabalhador usuário de ônibus aos atacados pequeno-burgueses usuários da "bendita" ciclovia!
Hoje, existe uma pressão muito
grande por parte da chamada sociedade civil em relação a uma política pública
em torno das ciclovias, que teria como objetivo atender as demandas de
ciclistas que querem ir ao seu trabalho através de um modo de transporte
sustentável e que não polua, além, fica evidente, da necessidade de ganhar-se
tempo e hoje, o trânsito faz com que o carro torne-se um dos meios mais demorados
e desconfortáveis de se locomover numa metrópole como São Paulo.
Não
dá para afirmar que não é justa a reivindicação dessas pessoas que,
honestamente, creem que estão contribuindo para a melhoria da vida da cidade e
suas, em particular.
Mas
o que eu gostaria de discutir é o âmago dessas medidas e a quem, realmente,
interessa esse tipo de política e por que todos os meios de comunicação
repercutem com ênfase os discursos honestos inflamados por técnicos da área de
transporte que, igualmente honestos, creem veementemente estarem contribuindo
para uma melhor qualidade de vida da população. Isto é inegável!
Como
diria Jack, vamos por partes.
Por
que então, não se cria leis que vetem a industrialização e veículos e que dê
incentivos fiscais aos industriais de bicicletas, tão em moda nesse tipo de
governo que prefere dar incentivos fiscais aos industriais em detrimento do
atendimento de educação e saúde pública. Ou alguém acha que dinheiro dá em
árvores e que esse tipo de medida não irá acarretar em ônus para alguém?
Por
outro lado, qual o interesse em dar tanto ênfase nessas ciclovias? O pedestre
está sendo lembrado nesses conflitos existentes no trânsito paulista? Os
semáforos de pedestres que demoram anos para serem implantados nãop são
prioridade por que?
Alguns
questionamentos e outros que se poderiam fazer não tem uma resposta
satisfatória pelo simples fato que não está existindo planejamento estratégico
para o trânsito em nossa cidade!
Também
é verdade que nem a CET, nem a SPTrans fala mais em corredores de ônibus e em
investimentos em transporte coletivo de boa qualidade. Esse projeto morreu
junto com a derrota da Marta Suplicy e, infelizmente, esse governo tem outro
foco. Agradar a pequenas burguesia que quer passear, sim, eu disse passear, de
bicicleta aos finais de semana e para isso, precisa que se pare a cidade! Como
se pode perceber, se fala em incentivar o uso de bicicletas, implanta-se a
toque de caixa inúmeras ciclovias, mas, na verdade, elas tem um funcionamento
aos finais de semana. Quantos são os trabalhadores que moram nos morros das
periferias estão “dando um rolê” nos finais de semana de bike? Acreditem,
nenhum!
Primeiro
porque é humanamente inviável descer e subir morros com inclinações superiores
a 25° carregando um bike! Segundo que no final de semana esse trabalhador está
esgotado. Ou, pior, ainda que esgotado, está terminando sua casa ou fazendo um
novo puxadinho para poder oferecer um churrasquinho a seus amigos nos finais de
semana. Bicicleta só nas férias e olha lá!
Quem
anda de bicicleta? Certamente, a pequena burguesia. E quem defende essa
política. Quem mora nos bairros mais elitizados, planos, e que não percebe que
o pobre trabalhador tem coisa mais importante para fazer (sua sobrevivência) de
que se preocupar com passeios sazonais aos finais de semana. Se puder ele vai do jeito que anda de ônibus
mesmo! Ou seja, de qualquer jeito!
E
para quem interessa essas medidas. Antes de mais nada, para os empresários de
ônibus, fortes investidores, por exemplo, na candidatura do Kassab e, agora, do
Serra. Com todo mundo discutindo um modo de transporte individual e barato,
esquece-se dos problemas sérios que temos com os transportes públicos de massa,
isso sem falar no fetiche do individual em detrimento do coletivo. Pessoas
andando de bicicleta não trocam informações entre si e não reparam na porcaria
de transporte público que temos! Não percebe que os mesmos que reclamavam do
monopólio estatal da CMTC e que hoje existe um oligopólio de méis dúzia de
empresas sócias entre si e que ganham uma fortuna nessa concessão e que nos atende mal e porcamente e que paga
muito menos aos trabalhadores do ramo do que na época de CMTC que elevava o
nível salarial dos condutores de São Paulo!
Como
percebemos, o interesse é político. E pior, trata-se de uma política
milimetricamente calculada que coloca o indivíduo à frente do coletivo e
consegue enganar boa parte da despreparada classe média que não consegue
perceber que está sendo usada por uma política de manutenção do “status-quo” e
que serve aos interesses de mega-empresários, normalmente multinacionais ou
verdadeiras quadrilhas financeiras como no caso das concessionárias de ônibus
da capital, que enriquecem às custas de nossos impostos e que niguém, repito,
ninguém advoga em nosso favor!
Por
fim, gostaria de chamar a atenção que só com um grande investimento na área de
transporte coletivo de massas com atrelamento de ônibus, metrô, trem e VLT
concomitante a mudança na legislação com a reestatização das concessões de
ônibus e trem e com a total estatização do metrô e com leis pesadas sobre, por
exemplo, passageiros de ônibus em pé, obrigando os coletivos a instalarem, como
em qualquer veículo, cintos de segurança, com ônibus mais confortáveis e não
com é hoje que ônibus articulado cabe menos passageiros sentados de que os
ônibus da década de 70, que faça com que a pequena burguesia sinta-se
confortável em deixar seu carro em casa e dirigir-se a um ponto, não como se
veem, hoje, nas periferias que nem cobertura tem, mas como os da Av. Paulista
que tem até TV, com intervalos que permita-nos entrar num coletivo e sentar,
pague-se um salário justo ao condutor até para poder exigir dele educação e bom
atendimento, inclusive, com cursos de profissionalização e de atendimento
padrão. Mas isso custa grana, muito mais de que meia dúzia de ciclovias para
atender uma pequena, mas barulhenta, parcela da população me detrimento dos
milhões de trabalhadores que se consomem como sardinhas enlatadas nos ônibus,
metrôs e trens dessa nossa metrópole tão sacana com que produz para esse país!
Heitor Cláudio Leite e
Silva
Historiador,
Professor da Rede Pública,
Conselheiro
Estadual Eleito da APEOESP,
E
Pesquisador do Ramo de Trânsito e Transporte