sábado, 9 de junho de 2012


As Ciclovias e os Corredores de Ônibus!
            Após uma paralisação necessária, de meses, volto a escrever em meu blog que, espero, seja aberto a discussão sobre tão importante tema, o trânsito e o transporte numa cidade como a nossa! Nesse sentido, coloco em discussão minha opinião em relação a política pública implementada pelo (des)governo Kassab e sua visão higienista e elitista, nesse caso, com o advento das ciclovias em detrimento dos corredores de ônibus e investimento em transporte público de massa. Esse texto, a princípio, não tem o objetivo de ser um documento acadêmico, muito pelo contrário, poderá servir par isso, mas, por ora, gostaria que fosse para discussão do mais simples trabalhador usuário de ônibus aos atacados pequeno-burgueses usuários da "bendita" ciclovia!
        Hoje, existe uma pressão muito grande por parte da chamada sociedade civil em relação a uma política pública em torno das ciclovias, que teria como objetivo atender as demandas de ciclistas que querem ir ao seu trabalho através de um modo de transporte sustentável e que não polua, além, fica evidente, da necessidade de ganhar-se tempo e hoje, o trânsito faz com que o carro torne-se um dos meios mais demorados e desconfortáveis de se locomover numa metrópole como São Paulo.
Não dá para afirmar que não é justa a reivindicação dessas pessoas que, honestamente, creem que estão contribuindo para a melhoria da vida da cidade e suas, em particular.
Mas o que eu gostaria de discutir é o âmago dessas medidas e a quem, realmente, interessa esse tipo de política e por que todos os meios de comunicação repercutem com ênfase os discursos honestos inflamados por técnicos da área de transporte que, igualmente honestos, creem veementemente estarem contribuindo para uma melhor qualidade de vida da população. Isto é inegável!
Como diria Jack, vamos por partes.
Por que então, não se cria leis que vetem a industrialização e veículos e que dê incentivos fiscais aos industriais de bicicletas, tão em moda nesse tipo de governo que prefere dar incentivos fiscais aos industriais em detrimento do atendimento de educação e saúde pública. Ou alguém acha que dinheiro dá em árvores e que esse tipo de medida não irá acarretar em ônus para alguém?
Por outro lado, qual o interesse em dar tanto ênfase nessas ciclovias? O pedestre está sendo lembrado nesses conflitos existentes no trânsito paulista? Os semáforos de pedestres que demoram anos para serem implantados nãop são prioridade por que?
Alguns questionamentos e outros que se poderiam fazer não tem uma resposta satisfatória pelo simples fato que não está existindo planejamento estratégico para o trânsito em nossa cidade!
Também é verdade que nem a CET, nem a SPTrans fala mais em corredores de ônibus e em investimentos em transporte coletivo de boa qualidade. Esse projeto morreu junto com a derrota da Marta Suplicy e, infelizmente, esse governo tem outro foco. Agradar a pequenas burguesia que quer passear, sim, eu disse passear, de bicicleta aos finais de semana e para isso, precisa que se pare a cidade! Como se pode perceber, se fala em incentivar o uso de bicicletas, implanta-se a toque de caixa inúmeras ciclovias, mas, na verdade, elas tem um funcionamento aos finais de semana. Quantos são os trabalhadores que moram nos morros das periferias estão “dando um rolê” nos finais de semana de bike? Acreditem, nenhum!
Primeiro porque é humanamente inviável descer e subir morros com inclinações superiores a 25° carregando um bike! Segundo que no final de semana esse trabalhador está esgotado. Ou, pior, ainda que esgotado, está terminando sua casa ou fazendo um novo puxadinho para poder oferecer um churrasquinho a seus amigos nos finais de semana. Bicicleta só nas férias e olha lá!
Quem anda de bicicleta? Certamente, a pequena burguesia. E quem defende essa política. Quem mora nos bairros mais elitizados, planos, e que não percebe que o pobre trabalhador tem coisa mais importante para fazer (sua sobrevivência) de que se preocupar com passeios sazonais aos finais de semana.  Se puder ele vai do jeito que anda de ônibus mesmo! Ou seja, de qualquer jeito!
E para quem interessa essas medidas. Antes de mais nada, para os empresários de ônibus, fortes investidores, por exemplo, na candidatura do Kassab e, agora, do Serra. Com todo mundo discutindo um modo de transporte individual e barato, esquece-se dos problemas sérios que temos com os transportes públicos de massa, isso sem falar no fetiche do individual em detrimento do coletivo. Pessoas andando de bicicleta não trocam informações entre si e não reparam na porcaria de transporte público que temos! Não percebe que os mesmos que reclamavam do monopólio estatal da CMTC e que hoje existe um oligopólio de méis dúzia de empresas sócias entre si e que ganham uma fortuna nessa concessão e  que nos atende mal e porcamente e que paga muito menos aos trabalhadores do ramo do que na época de CMTC que elevava o nível salarial dos condutores de São Paulo!
Como percebemos, o interesse é político. E pior, trata-se de uma política milimetricamente calculada que coloca o indivíduo à frente do coletivo e consegue enganar boa parte da despreparada classe média que não consegue perceber que está sendo usada por uma política de manutenção do “status-quo” e que serve aos interesses de mega-empresários, normalmente multinacionais ou verdadeiras quadrilhas financeiras como no caso das concessionárias de ônibus da capital, que enriquecem às custas de nossos impostos e que niguém, repito, ninguém advoga em nosso favor!
Por fim, gostaria de chamar a atenção que só com um grande investimento na área de transporte coletivo de massas com atrelamento de ônibus, metrô, trem e VLT concomitante a mudança na legislação com a reestatização das concessões de ônibus e trem e com a total estatização do metrô e com leis pesadas sobre, por exemplo, passageiros de ônibus em pé, obrigando os coletivos a instalarem, como em qualquer veículo, cintos de segurança, com ônibus mais confortáveis e não com é hoje que ônibus articulado cabe menos passageiros sentados de que os ônibus da década de 70, que faça com que a pequena burguesia sinta-se confortável em deixar seu carro em casa e dirigir-se a um ponto, não como se veem, hoje, nas periferias que nem cobertura tem, mas como os da Av. Paulista que tem até TV, com intervalos que permita-nos entrar num coletivo e sentar, pague-se um salário justo ao condutor até para poder exigir dele educação e bom atendimento, inclusive, com cursos de profissionalização e de atendimento padrão. Mas isso custa grana, muito mais de que meia dúzia de ciclovias para atender uma pequena, mas barulhenta, parcela da população me detrimento dos milhões de trabalhadores que se consomem como sardinhas enlatadas nos ônibus, metrôs e trens dessa nossa metrópole tão sacana com que produz para esse país!

Heitor Cláudio Leite e Silva
Historiador, Professor da Rede Pública,
Conselheiro Estadual Eleito da APEOESP,
E Pesquisador do Ramo de Trânsito e Transporte