segunda-feira, 24 de maio de 2010

Texto publicado no site Última Instância

Ricardo Giuliani Neto - 24/05/2010

Não vai demorar muito para que todos os que pediram o projeto “Ficha Limpa” e os que detonaram o “fator previdenciário” afirmem em uníssono, tal qual aquele personagem do Jô Soares: “ e eu agrediiteeeiii...”

O show de hipocrisias e de cinismos no Congresso Nacional foi algo absolutamente insuperável. Ver os Senadores Agripino Maia e Romero Jucá, juntos com todos os outros, cobrando decência das Casas da República, somente foi superado pelo ridículo da emenda senatorial aposta ao projeto ficha limpa regulando o tempo do verbo subordinativo do tempo das condenações havidas. Portanto, limpar-se-ão as fichas, a depender da conjugação verbal; explique-se Senador Dornelles.

Constituição? Às favas! A preocupação dos representantes do povo e dos Estados fixou-se nas urnas de outubro. Pão e circo. Ao povo, pão, circo e demagogia da mais barata.

E o pior, há uma montanha de gente de boa-fé sendo enganada pelo embuste patrocinado, lá no comecinho, pela Associação dos Magistrados Brasileiros, mãe do projeto de lei que dá as costas à Constituição brasileira. Sim, o princípio constitucional da inocência ou da não-culpa, sequer foi trazido ao debate pelos senhores congressistas. Os olhos dos congressistas estão nas urnas de outubro, e a consciência dos pais do embuste, na “ingenuidade” romântica de quem faz a política com a toga.

O tema é singelo: o meio cidadão e o cidadão e meio. Ah, e no meio disso tudo existem pedras, gente tentando fazer política séria e decente. Acompanhem os acontecimentos e depois me digam, ou, melhor, digam a vocês mesmos, foi um embuste, ou não?

Não quero entrar no tema relativo ao fator previdenciário aprovado pelo Congresso Nacional juntamente com o aumento do índice de reajuste aos aposentados com vencimento superior a um salário mínimo. É outra bazófia, outra fanfarronice; ou alguém duvida do veto Presidencial à demagogia barata? Por que demagogia barata? É impensável matéria desta complexidade e envergadura sendo tratada como se comprando um quilograma de tomates ou 3 ou 4 bananas.

A nossa política está cada vez mais parecida com os nossos políticos. Com o perdão da generalização – sempre injusta – hipócritas e cínicos, isto é o que vi na última semana no Congresso Nacional. Homens com lado; o lado de dentro. Se há governo, se há benesses, estão dentro, sempre dentro. As estampas na mídia, a rouquidão moralista, o oportunismo escrachado, tudo com nome e sobrenome e urnas de outubro.

Postos os símbolos, alguns questionarão: e aí? E as novidades? Até agora escrevestes o sabido! Verdade! Não há novidades no front, nem mesmo outubro será diferente.

Pensem nas manchetes dos telejornais, nas chamadas dos diários nacionais, nos títulos dos principais colunistas do País e digam, onde encontraram algum juízo crítico sobre a postura do Congresso Nacional? Todos vendo e publicando a demagogia, reverberando a hipocrisia e oferecendo horários nobres ao cinismo. Por que a sociedade é assim?

A encenação no projeto de lei “ficha limpa” e o escárnio no “pacote de bondades” aos aposentados de boa-fé, são a mostra da total falta de limites e o mais desplantado deboche com os brasileiros que, como já disse, acreditam que essas coisas vieram para melhorar nossas vidas.

Prestem atenção nas discussões nascidas no dia imediatamente posterior às aprovações referidas. Relativamente ao Ficha Limpa, surgem os “não é bem assim”, “só vale pras próximas eleições”. No fator previdenciário, “temos que discutir melhor a matéria”, “desde que o Presidente não vete o aumento pros aposentados, pode até vetar o fator”. Mentira ou verdade? Ora? Cinismo e hipocrisia!

Então aguardemos o “e eu acreeediteeiiii...”

Ah! Não esqueça, eles querem o seu voto e sinto informar, nas matérias comentadas, a unanimidade esteve presente no Congresso Nacional. Ah! Não esqueçam do grande Nelson Rodrigues: a unanimidade, é burra.

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