segunda-feira, 24 de maio de 2010

Publicação do Correio do Brasil.

23/5/2010 14:33:31
Polícia do Haiti acusada de massacrar prisioneiros após terremoto

Por Redação, com NY Times - de Les Cayes, Haiti


Presos confinados em celas superlotadas

Quando a terra tremeu no Haiti, em 12 de janeiro deste ano, os detentos de uma prisão miserável de Les Cayes, cidade ao sul do país, imploravam para para alguém libertá-los, aos gritos de: "Socorro! Nós vamos morrer aqui". Em outras partes do país, centenas de presos conseguiram fugir, após o terremoto derrubar paredes inteiras das celas. Mas, em Les Cayes, onde a prisão sofreu danos mínimos, não havia saída. E a situação piorou muito para os presos: três quartos deles estão detidos ainda sem julgamento, presos sob acusações mínimas como vadiagem, indefinidamente, ao lado de criminosos condenados.

Logo após o terremoto, segundo constataram os repórteres Deborah Sontag e Walt Bogdanich, do diário norte-americano The New York Times, os guardas espancaram os internos mais ruidosos, garantindo o confinamento em celas superlotadas. Para dormir, somente em turnos. Os banheiros eram baldes. A água, racionada. Estava formado o ambiente para uma trágica tentativa de fuga. Atacaram um guarda, atearam fogo ao que encontraram pela frente, correria pelos corredores mas, ao alcançarem o pátio, última etapa antes dos muros externos da prisão, guardas penitenciários e tropas das Nações Unidas frustraram o plano de forma violenta.

Horas depois que a polícia haitiana invadiu o complexo, dezenas de prisioneiros estavam mortos e feridos, corpos espalhados pelo pátio e pisoteados dentro das células. Sangue para todos os lados. Para a comissão de direitos humanos das Nações Unidas, as autoridades haitianas negaram o uso de força letal e atribuiram as mortes às gangues locais, lideradas por um preso "perigoso".

Na reportagem, publicada neste domingo, no New York Times, foram levantadas dúvidas quanto à versão oficial dos fatos e mostradas as evidências de que as autoridades haitianas abriram fogo contra os prisioneiros desarmados e, em seguida, tentaram encobrir a ação. Muitos cadáveres foram enterrados em covas sem qualquer identificação. Kesnel Jeudi, um detento ouvido pelos repórteres, disse em entrevista que ninguém estava morto quando a polícia invadiu a prisão.

– Eles gritaram: 'Presos, deitem-se. Deitem-se. Deitem-se. Quando os presos obedeceram e se deitaram, os policiais abriram fogo – disse o presidiário.

Jeudi, de 28 anos, afirmou que os assassinatos eram, na realidade, acertos de contas entre os guardas e os prisioneiros:

– Eles escolhiam quem iam matar – relatou.

O número exato de mortes permanece desconhecido até agora, mas na maioria dos relatos, calcula -se entre 12 e 19 mortos e mais de 40 feridos. O atendente do necrotério local, Georges Raymond, registrou inicialmente 11 detentos mortos, mas vários outros foram internados com ferimentos à bala e vieram a falecer em decorrência dos tiros, dias depois, no hospital ao lado.

Os funcionários da prisão não permitiram o ingresso dos repórteres do NY Times no complexo penitenciário que fica atrás da central de polícia, no centro da cidade. Mas os repórteres entrevistaram seis testemunhas do tumulto, bem como outras cinco pessoas que foram à prisão imediatamente após o tiroteio ou no dia seguinte. Nenhum deles viu presos disparando armas ou qualquer prova de que os presos teriam matado os próprios presos. Em vez disso, testemunhas disseram que a polícia disparou em prisioneiros desarmados, alguns no pátio da prisão, outros em suas celas. Posteriormente, as autoridades não notificaram os parentes dos detentos das mortes e vários corpos foram enterrados sem a realização de autópsias. As roupas dos prisioneiros sobreviventes "manchadas de sangue, junto com os sapatos, foram queimadas", relatou um dos entrevistados.

Myrtil yonel, líder dos direitos humanos no Haiti, afirmou:

– Para nós, o que houve foi um massacre.

Olritch Beaubrun, superintendente da unidade de polícia haitiana antimotim, zombou da acusação. Ele disse que um detento apelidado de Ti Mousson tinha abatido os detentos que resistiram seu plano de fuga.

– Ti Mousson derrubou os 12 detidos. Nós não. Nunca disparamos nossas armas contra os detentos – afirmou.

A polícia das Nações Unidas, no entanto, assinala o acontecimento em um relatório interno de incidentes, no qual aponta o uso de armas de fogo pela polícia haitiana. Os cozinheiros e três mulheres presas no interior do presídio, durante o tumulto, confirmam que os detentos não fizeram nenhum disparo. Nenhuma arma foi recuperada. Ti Mousson – cujo nome verdadeiro é Luguens Cazeau – escapou. As autoridades não consideraram a prisão como cena de um crime, destruindo toda e qualquer evidência de que Cazeau, o preso "perigoso" que aguardava julgamento sob a acusação de roubar uma antena parabólica, teria sido o autor de tantas mortes.

Um comentário:

Rockmantic disse...

Heitor!!
Gostamos muito do blog!
Lembra da gente? -Sesi 069/2009
haha keep rocking!